quinta-feira, 3 de julho de 2014

Vitiligo???

Um dia, tinha eu 18 aninhos, acabada de sair da praia, entro no carro, quando o meu namorado de então olha para mim com ar de espanto e diz-me... RITA, tens a cara toda manchada! Virei o espelho do carro para mim e vejo então uma enorme mancha branca e redonda no queixo. Não fazia ideia o que podia ser nem me lembro o que pensei na altura. Acho que esperei que passasse e que fosse apenas uma reação do sol. O dia passou, tomei banho, coloquei os cremes e a mancha continuava grande e assanhada no meu queixo. A minha mãe assustou-se. Naquela altura, disse-me ela depois, achava que eu podia ter uma doença tipo lupus. Olhava para as minhas faces pois do que ela tinha lido, o lupus dava também uma rosetas tipo borboletas na cara. Mas não. Não devia ser lupus. Que raio era aquela enorme mancha então? Era Verão, pleno Agosto e foi uma dificuldade para arranjar um dermatologista que desse consultas de urgência. Com bastante dificuldade, arranjámos um. Eu ia descontraida pois achava que aquilo não devia passar de um virus qualquer da praia, pois naquela altura até havia muita gente com uma coisa parecida com aquela que costumava afectar as costas. 

Foi com uma enorme surpresa, que o dermatologista logo que me observou, me dá o diagnóstico. VITILIGO. O que é isso? Perguntei eu. O Vitiligo é uma doença de despigmentação da pele. E eu: Mas vai ficar assim para sempre? E ele: "Isso se não aumentar. A tendência é para a despigmentação ir alastrando pelo corpo todo. Há pessoas que têm mais de metade do corpo despigmentado. E não há cura!" Naquela altura caiu-me tudo ao chão. Lembrei-me de imediato de uma miuda girissima que tinha sido colega de escola da preparatória mas de outra turma e que tinha precisamente mais de metade do corpo despigmentado, e que por isso era alvo de alguma chacota por parte de colegas desagradáveis. E a miúda que era gira, gira... Eu não era assim tão gira. Toda manchada... como é que ia ser? O que é que ia ser de mim? O meu namorado ia deixar de gostar de mim e todos na universidade iam gozar comigo. De repente, passou-me pela cabeça ser a mulher mais infeliz do mundo.. infeliz e FEIA!

O que os 18 anos fazem à cabeça de uma pessoa!

O médico dermatologista não foi nada meigo. Pintou mesmo o pior cenário possivel. Proibiu-me de apanhar sol. Sol só com protector de ecran total dizia ele. E nesse dia, acabou o Verão para mim. Pelo menos naquele ano. Foi dos Verões mais infelizes que eu já tive. HORRIVEL.

O tempo passou e como no inverno a mancha branca passava meio despercebida esqueci o problema. Ou melhor, não esqueci mas... adormeci o problema. No ano seguinte, consultei outro dermatologista. Esse dermatologista não pintou o cenário tão negro como o primeiro. Referiu que sim, tinha de ter cuidado, sim tinha mesmo vitiligo, sim o vitiligo podia alastrar... MAS... também podia não avançar mais. Tudo dependia da minha forma de estar e do stress envolvente da minha vida. Segundo esta dermatologista, o vitiligo era uma doença inimiga do stresse, ou seja... um episódio mais stressante ou traumatizante, podia fazer avançar a doença. Sol? Claro que sim. Continue a apanhar sol mas com as devidas precauções pois a pele como está branca tem tendência a queimar com mais facilidade e pode apanhar escaldões naquela parte da pele mais facilmente. - Dizia ela.

Ufa. Menos mal, pensei eu. Vamos lá então habituar-me à ideia de andar malhadinha. De vez em quando notava que me iam aparecendo mais manchinhas, nomeadamente nas virilhas, nas axilas, no peito e nos dedos das mãos... umas mais pequeninas... outras maiorzinhas. Tentei não ligar ao assunto e continuei a fazer a minha vida.

Quando acabei a faculdade, 4 anos depois de me terem aparecido as primeiras manchas, a evolução do vitiligo estabilizou, mas... começaram os problemas. Na faculdade nunca me tinham olhado de maneira diferente, nunca me gozaram e sempre me trataram como se nem vissem o Vitiligo. E nunca, mas nunca usava maquilhagem. 

Ao começar a trabalhar, comecei a sentir que as pessoas mais velhas olhavam para mim com ar de coitadinha, e não raras vezes me vinham perguntar o que eu tinha. Se tinha apanhado algum escaldão. Havia pessoas que sem nunca ter reparado que eu tinha manchinhas, de repente, olhavam para mim como se eu tivesse uma doença contagiosa e perguntavam que raio tinha na cara. Outras, querendo ser muito amigas (mentira) mostravam-se muito preocupadas, dizendo que eu tinha era de ir ao médico ver isso... por mais que lhes explicasse que ao médico já eu tinha ido, não valia a pena. Para estas pessoas eu devia ter qualquer coisa grave e era melhor ir ao médico imediatamente. Enfim... Foi de tal maneira chato que resolvi começar a maquilhar-me. Um dia, farta dos olhares descriminadores, entrei numa loja de maquilhagens e pedi ajuda para me disfarçarem o vitiligo. As bases e cremes eram carissimos e o meu jeito para maquilhagem nulo. Ainda assim, levei os produtos na esperança de conseguir embonecar-me como na loja de maquilhagem. E foi um sucesso. Deixou de haver descriminação e passei a ser uma miuda completamente normal... já o era, mas as pessoas achavam que não. A partir daí, a maquilhagem faz parte de mim. Não consigo estar sem estar maquilhada. Apesar de nunca me ter preocupado muito com o aspecto ( a não ser naquele ano fatidico do choque ), não há duvida que me sinto muito melhor comigo mesma se me maquilhar. Porque se não gostarmos de nós, quem gostará? 

O Vitiligo nunca me impediu de fazer nada, nem de ter namorado, nem de casar, nem de ter filhos, nem de trabalhar! O vitiligo não nos impede de sermos felizes. O vitiligo é apenas e só um tipo de pele diferente. Há os negros, há os brancos, há os morenos e há... os malhadinhos... uns mais que outros. A descriminação está no olhar dos ignorantes. Se as pessoas olham para mim e para as minhas manchas? Sim. Ás vezes noto que sim... outras se calhar também mas eu nem noto. Eu também olho para outras pessoas que, como eu são malhadinhas... sem qualquer olhar discriminativo. Por curiosidade? E por outra razão que vos vou falar mais tarde mas deixo já uma dica. Cura? Não, não há... Mas há, felizmente tratamentos que melhoram substancialmente o vitiligo. Falo deles mais tarde.


2 comentários:

Maria disse...

Nunca reparei se tinhas ou não manchinhas na cara,tapadas ou não pela maquilhagem, porque não é isso que te define como pessoa. Pudessem os males interiores estar assinalados (a maldade, a inveja, a falsidade) e lá me preocupava com as manchas. Para mim és a Rita. Ponto. Com manchinhas, muitas, poucas ou nenhumas, branquinhas ou azuis.
Um grande beijinho (e sim, pode ser mesmo na manchinha) ;)

Anónimo disse...

Olá Rita :-)
Tenho vitiligo desde o ano passado. Apareceu-me e eu pela 1.ª vez ouvi a palavra vitiligo. Já tinha conhecido e convivido com pessoas que tinham vitiligo, mas nunca tinha falado sobre o assunto. Sempre pensei, é uma doença na pele.
Apareceram-me manchas nos braços, mas desde maio tem aparecido na cara. Tem sido bastante difícil, trabalho com crianças, mas o pior são os pais e patrão, olham para mim com ar de "nojo" (desculpa a palavra). Tem-me atacado tanto na cara e nem sei o que fazer.
Sou seguida por uma médica mas receitou-me protector solar 90 para a cara e protopic. Bem nem sei o que fazer.
Vou comprar a base que a Rita falou.
Obrigada pelo testemunho.
Um beijinho Vanessa