terça-feira, 15 de outubro de 2013

Orgulho de ser filha de quem sou

O meu pai era / é um homem austero, exigente com ele próprio mas principalmente com os outros, comigo. Lembro-me que quando era miuda e tinha o azar de trazer um satisfaz para casa, levava logo com um "hás-de levar um lindo enterro" porque para ele, satisfaz ou suficiente não era nota que se apresentasse. Eu detestava que ele me dissesse isso mas isso fazia com que eu estudasse ainda mais e quisesse ser ainda melhor do que era. Nunca fui uma aluna brilhante, tinha sempre de estudar que nem uma louca para conseguir uma nota melhor que um satisfaz. E tinha os meus azares por isso de vez em quando nem o satisfaz atingia. Nessa altura até tinha medo de chegar a casa pois apesar de nunca me bater, a pressão e a desilusão dele era tanta que o meu coração apertava de tal maneira que logo que chegava à porta não conseguia evitar derramar rios de lágrimas, mesmo sem ele abrir a boca.

Na altura eu não gostava. Na altura eu reclamava. Na altura eu chorava, gritava, reclamava que não podia ser assim. Virava-me para a minha mãe pois só ela me compreendia. As mães são diferentes, pensava eu. Mas não era diferente. Era igual. Apenas a maneira de reagir e de me fazer ver as coisas era diferente. Os objetivos esses, eram de ambos. Que eu fosse a melhor que conseguisse ser.

Esta atitude de ambos que repito, eu não gostava, fez-me crescer. Fez de mim a pessoa que sou hoje. Lutadora e vencedora. Sim, sim... sou uma vencedora. Posso não estar a fazer exatamente o que gostaria de fazer em termos profissionais neste momento mas estou no melhor cargo para o qual me fartei de estudar e batalhar. Sim, sou uma lutadora e uma vencedora que não teve uma vida fácil e que nunca teve nada de mão beijada. Uma lutadora e uma vencedora que trabalha desde os 19 anos porque nunca quis depender de ninguém para nada. Uma lutadora e uma vencedora que mesmo em termos pessoais já passou por muita coisa, algumas coisas que me podiam ter dado para uma depressão valente, mas não. Levantei a cabeça e o meu nariz, respirei fundo e segui em frente sem olhar para trás. 

Uma lutadora e uma vencedora que sabe respeitar as outras pessoas, que gosta de honrar os seus compromissos, que detesta falsidades e mediocridades, que detesta falta de educação e faltas de respeito. E também tenho muitos defeitos. Toda a gente tem. São os mesmos defeitos provavelmente que eu apontava ao meu pai também. Defeitos com os quais nós aprendemos e que quem nos rodeia aprende a viver com eles. Porque eles existem e sempre vão existir. Muitas vezes, os defeitos de uns, são virtudes para outros. E eu aprendi assim. Aprendi que tudo na vida tem dois lados. A minha própria vida profissional gira à volta de balanços com proveitos e custos, prós e contras. Porque foi assim que me ensinaram a ser. Foi assim que os meus pais me ensinaram a ser. E é assim que eu também pretendo ensinar os meus filhos. Com esses valores, com essa perspectiva de vida. Porque a vida não são rosas e porque é preciso batalhar mas também é preciso ponderar e avaliar cada atitude que tomamos para termos a certeza que estamos a tomar a atitude certa. E porque assim, avaliando, ponderando... estamos mais preparados para as adversidades da vida.

Foi assim que os meus pais me ensinaram. Foi assim que eu aprendi. Foi assim que eu, com a minha personalidade lixada também, decidi que construiria a minha vida. 

Posso levar mais tempo a concretizar as coisas, a arriscar, mas quando o fizer, faço-o de plena consciência. E assumo os meus erros se tiver de errar. Porque foi assim que os meus pais me ensinaram. E ainda bem que o fizeram!

1 comentário:

Maria disse...

Também fui educada da mesma maneira. E por isso considero-me uma guerreira! E é assim que a L. seja também!
Muitos beijinhos